sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Reflectir sobre a possibilidade de pensarmos o futuro é uma tarefa complexa e um desafio que nos obriga a (re)pensar a vida.

Estou demasiado ocupada com o presente. Vivo um presente intenso, auto-destruidor, nostálgico, caótico… Portanto, no meu ponto de vista, nada há para reflectir sobre o futuro. E reflectir sobre o futuro seria reflectir sobre o desconhecido. O autoconhecimento é essencial para poder combinar conhecimento, experiência e talento a fim de atingir o pico do desempenho. E na vida, poucos aproveitam a oportunidade de realizar essa espécie de análise, para poder atingir um futuro promissor e sonhado por muitos. De nada vale imaginar que no futuro irei ser um simples médico ou um simples trolha. Arriscar para vencer, também significa arriscar para perder, por isso a coragem e a confiança são das componentes mais importantes para enfrentarmos o futuro que imaginamos para nós. Mas quando há falta dessas duas componentes no nosso subconsciente, não há nada que possamos fazer para pensar num futuro, seja ele promissor ou não. A minha mente está cheia de nada, e incapaz de pensar num futuro para mim. O que fiz no passado e o que faço no presente, mudou a minha vida para sempre. É preciso muito tempo para nos tornarmos a pessoa que queremos ser… mas o tempo é curto.

Para mim o futuro é como um tabuleiro de xadrez. Nenhuma partida é igual e a principal peça, o “Rei”, sou eu, a peça que luta para nunca se encontrar em “cheque mate”. Tenho uma “Rainha” que me protege com toda a força e todos os movimentos possíveis. Os peões, os bispos, os cavalos e as torres, são as restantes peças do tabuleiro, a que chamo de “minha vida”. Comparo essas peças, às pessoas que me acompanham no presente, sejam familiares ou amigos. São essas peças que me acompanham enquanto vou entrando futuro adentro, são elas que me protegem com os seus movimentos característicos. Mas na realidade, a peça mais importante continuo a ser eu, o “Rei”, que não dependo só de mim para me manter no caminho, como é óbvio, mas sim de todas as peças que me rodeiam. Um passo em falso, e lá cai mais um peão da minha vida, ou que deu a vida para me proteger. Mais um passo se segue e lá vai mais um peão… Lá vai mais uma peça de tabuleiro, ou alguém importante da minha vida. Há também aquelas peças, com as quais conto para me ajudarem a progredir até ao futuro que eu sonhei, mas um passo em falso, querendo tombar uma peça adversária, sujeita-se a deixar-me em “cheque” e fazer-me desviar do meu objectivo. Não preciso dessas peças na minha vida, peças com obsessões de tombar quem está do outro lado, preciso sim, daquelas que são capazes de me proteger, e me deixar progredir com o meu “jogo” até atingir o meu fim, o meu objectivo. Mas será que tenho objectivos?

Durante todo este percurso, passei, passo e/ou passarei por vários “cheques”. Ou por um bom jogo dos adversários, ou por más decisões minhas ou das peças que me rodeiam. Mas “cheque”, não significa tombar, significa que terei que escolher outro caminho para fugir do “cheque mate”. Como num jogo de xadrez, a vida tem que ser levada com inteligência. E esta inteligência não faz parte de mim, porque vivo acorrentada ao passado e ao inferno do presente, logo não possuo qualquer réstia de capacidades para pensar em perspectivas futuras. Isso seria o inferno. Acho que sei o que o inferno é. O inferno é acordar todos os dias acreditando que todo o sofrimento que temos na vida, tem algum significado. E se encararmos isso, aprenderemos lições valiosas. Mas a verdade é que, às vezes o que sofremos não tem nenhum significado. Somos marionetas num jogo doentio de hipóteses aleatórias. Caos. O meu inferno, é o silêncio. O tipo de silêncio que faz os ouvidos vibrar. Eu odeio o choro. Adoraria um pouco de silêncio.

A depressão é a incapacidade de construir um futuro. E tenho ido por este caminho tão longe só para descobrir que ele termina.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

"O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto."

"De resto, com que posso contar comigo? Uma acuidade horrível das sensações, e a
compreensão profunda de estar sentindo...Uma inteligência aguda para me destruir, e um
poder de sonho sôfrego de me entreter...Uma vontade morta e uma reflexão que a embala,
como a um filho vivo..."

Bernardo Soares, in Livro do Desassossego

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Porque é que este sonho estúpido
a que chamam realidade
não me obedece como os outros
o que trago na cabeça?

Eis a minha grande raiva!
Misturem-na com rosas...
E chamem-lhe vida!