segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Doa
Quanto terror latente nesse mar gelado que desde sempre levamos na alma…

Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém. 
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível: 
com ele se entretém 
e se julga intangível. 

Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu, 
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito, 
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu, 
não pesa num total que tende para infinito. 

Eu sei que as dimensões impiedosas da Vida 
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo, 
nesta insignificância, gratuita e desvalida, 
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.



De que me rio eu?... Eu rio horas e horas
só para me esquecer, para me não sentir.
Eu rio a olhar o mar, as noites e as auroras;
passo a vida febril inquietantemente a rir. 

Eu rio porque tenho medo, um terror vago
de me sentir a sós e de me interrogar;
rio para não ouvir a voz do mar pressago
nem a das coisas mudas a chorar. 

Rio para não ouvir a voz que grita dentro de mim
o mistério de tudo o que me cerca
e a dor de não saber porque vivo assim.
Perdi-me da minha razão
Perdi-me de mim
Que tenho eu com o mundo?
Cansaço por ele ser assim
Que faço eu afinal?
Perco-me no abismo
Porque nada existe
Nesta guerra infernal
Que se apodera de mim
Nestes dias sem fim
Últimos, espero eu

E depois o que vai ser de mim?

domingo, 29 de dezembro de 2013

E é em alguns momentos que realmente vemos quem temos à nossa volta, quem nos apoia, quem nos dá a mão... E isso quase não existe. O ser humano é o pior de todos os animais. O mais egoísta, o mau, o incompreensível.
Estou farta de tudo fazer e nada receber.
Só quero um bocadinho de colo, de compreensão, de sinceridade, compaixão... mas onde andam esses seres quando mais precisamos deles?
Com o que posso contar? Não há mais ninguém.
Natal com família separada.
Só quero acordar em 2014 e esquecer-me de que tudo isto não passa de um pesadelo.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

"Ana" e "Mia",

Éramos as melhores amigas. Andávamos sempre juntas, para onde eu ia, vocês nunca me deixaram. Agarrei-me a vocês com muita força.
Faziam com que eu vivesse só e exclusivamente para vocês.
Aos poucos, conseguiram com que eu me afastasse de tudo e de todos para viver só para vocês.

Consumiram-me! Esgotaram-me! Tiraram-me tudo... 
Em detrimento, deram-me anos de vida enegrecida, de dor, de angústia, de ansiedade, de depressão, de tentativas de suicídio. Sim, vocês! Eu enclausurada em casa e fechada sobre mim mesma... e acorrentada a vocês. Tiraram-me a liberdade, os amigos, vida social, família, conhecidos... Tiraram-me a vida!

As vossas vozes, por vezes, ainda entoam no meu subconsciente e fazem com que eu perca a noção da realidade. Fazem desenhos através da minha imaginação... monstros com a minha imagem, distorcem tudo o que vejo em mim.
 
Por vezes, consigo ignorar-vos, por alguns períodos de tempo... mas as vossas vozezinhas continuam.

Já passei muito por vossa causa. Fiquei muito doente. Foram anos sem vida que eu tive. Foram semanas e semanas hospitalizada... mas vocês continuavam lá, a tentar com que eu ainda acreditasse em vocês, ainda que meio escondidinhas.

Agora que eu estava a tentar afastar-me de vocês, a tentar levar uma vida normal, eis que me deparo com as marcas que me deixaram. 
E não! Não foi só a subnutrição, nem as auto-mutilações, nem as tentativas de suicídio, nem a depressão que vocês me impuseram! Porque agora, tenho as consequências daquilo que me fizeram. E que até são graves!
Quero afastar-me, mas vocês consomem-me e ainda me levam a acreditar numa ilusão.

Eu sou uma, vocês são duas. Mas acreditem minhas caras inimigas, eu ainda me hei-de rir de vocês! Não são nem nunca vão ser amigas das minhas amigas porque eu não vou deixar que ninguém acredite nas vossas alucinações! 

E se nada agradeço é porque nada tenho a agradecer