quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Esta não sou eu. Estas são as manadas de feras que existem dentro de mim a querer destruir este pedaço de nada – eu mesma!
Sou um ser repugnante, hoje mais do que nunca.
Chega o momento em que já não consigo mais tanta dor física e psicológica, não consigo suportar sozinha...
Todos os dias são uma batalha da qual, até agora, ainda não consegui vencer.
Acordo todos os dias a pensar "hoje não me vou pesar, vou comer a todas as refeições, não vou vomitar a seguir, para amanhã não acordar como hoje - tonturas, fome, exausta. Amanhã quero acordar uma pessoa diferente". Não consigo fazer nada disso... todos os dias a batalhar no mesmo...
Continuo a pesar-me várias vezes ao dia, conto as calorias que posso ingerir, vomito sempre que me sinto cheia e como uma estúpida, até ficar fraca, muitas das vezes, até desmaiar.
Porque andar fraca, para mim, é bom.
Eu sei que não é este o caminho certo, sei que estou a fazer tudo precisamente ao contrário. Estou a matar-me aos poucos, tenho noção disso e não consigo sair deste ciclo vicioso... Quando vejo os Kg a diminuírem sinto-me tão bem, mas bastam 100g de aumento, faço logo coisas que não devo, porque quanto mais perco, mais quero perder, é um ciclo tão vicioso, tão malicioso, tão horrível...
Um ciclo cheio de batalhas indomáveis que me manipulam e consomem a cada dia que passa.
Mas, ao mesmo tempo, faz-nos crescer e aprender muito, com os erros cometidos e, principalmente, com as consequências que ainda hoje possuo por toda esta terrível obsessão em querer ser mais e mais e mais e melhor.
Isto consome-me de dia para dia. Acordo sempre cansada, com fome, com tonturas, sem forças para nada. Mesmo assim, ainda vou saindo de casa.
Tento não fazer "pinturas" com a minha imaginação que me leva à ilusão, que me quer levar a algo que nem sequer existe. Quer levar-me para o abismo.
Mereço tudo de mal, sou um monstro.
Isto não é viver, é sobreviver (e mal).
A vida deve ser tão linda sem estas obsessões, sem estes pensamentos que matam todos os dias um bocado de mim...

Não fui eu que escolhi ser nem estar assim. 

domingo, 5 de janeiro de 2014

Poesia sem alma
É como uma musica sem melodia
Um pôr do sol em tempestade
Um alvorecer sem pássaros cantantes
Um jardim sem perfume e flores.
Poesia sem alma
É como papel sem palavras
Tela sem arte
Vida sem ser...
Poesia sem alma
É como me sinto agora
Coração bate, mas há demora.
É sentido sem sentido.
Eu, só eu e um teclado mudo.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Doa
Quanto terror latente nesse mar gelado que desde sempre levamos na alma…

Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém. 
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível: 
com ele se entretém 
e se julga intangível. 

Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu, 
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito, 
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu, 
não pesa num total que tende para infinito. 

Eu sei que as dimensões impiedosas da Vida 
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo, 
nesta insignificância, gratuita e desvalida, 
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.



De que me rio eu?... Eu rio horas e horas
só para me esquecer, para me não sentir.
Eu rio a olhar o mar, as noites e as auroras;
passo a vida febril inquietantemente a rir. 

Eu rio porque tenho medo, um terror vago
de me sentir a sós e de me interrogar;
rio para não ouvir a voz do mar pressago
nem a das coisas mudas a chorar. 

Rio para não ouvir a voz que grita dentro de mim
o mistério de tudo o que me cerca
e a dor de não saber porque vivo assim.
Perdi-me da minha razão
Perdi-me de mim
Que tenho eu com o mundo?
Cansaço por ele ser assim
Que faço eu afinal?
Perco-me no abismo
Porque nada existe
Nesta guerra infernal
Que se apodera de mim
Nestes dias sem fim
Últimos, espero eu

E depois o que vai ser de mim?

domingo, 29 de dezembro de 2013

E é em alguns momentos que realmente vemos quem temos à nossa volta, quem nos apoia, quem nos dá a mão... E isso quase não existe. O ser humano é o pior de todos os animais. O mais egoísta, o mau, o incompreensível.
Estou farta de tudo fazer e nada receber.
Só quero um bocadinho de colo, de compreensão, de sinceridade, compaixão... mas onde andam esses seres quando mais precisamos deles?
Com o que posso contar? Não há mais ninguém.
Natal com família separada.
Só quero acordar em 2014 e esquecer-me de que tudo isto não passa de um pesadelo.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

"Ana" e "Mia",

Éramos as melhores amigas. Andávamos sempre juntas, para onde eu ia, vocês nunca me deixaram. Agarrei-me a vocês com muita força.
Faziam com que eu vivesse só e exclusivamente para vocês.
Aos poucos, conseguiram com que eu me afastasse de tudo e de todos para viver só para vocês.

Consumiram-me! Esgotaram-me! Tiraram-me tudo... 
Em detrimento, deram-me anos de vida enegrecida, de dor, de angústia, de ansiedade, de depressão, de tentativas de suicídio. Sim, vocês! Eu enclausurada em casa e fechada sobre mim mesma... e acorrentada a vocês. Tiraram-me a liberdade, os amigos, vida social, família, conhecidos... Tiraram-me a vida!

As vossas vozes, por vezes, ainda entoam no meu subconsciente e fazem com que eu perca a noção da realidade. Fazem desenhos através da minha imaginação... monstros com a minha imagem, distorcem tudo o que vejo em mim.
 
Por vezes, consigo ignorar-vos, por alguns períodos de tempo... mas as vossas vozezinhas continuam.

Já passei muito por vossa causa. Fiquei muito doente. Foram anos sem vida que eu tive. Foram semanas e semanas hospitalizada... mas vocês continuavam lá, a tentar com que eu ainda acreditasse em vocês, ainda que meio escondidinhas.

Agora que eu estava a tentar afastar-me de vocês, a tentar levar uma vida normal, eis que me deparo com as marcas que me deixaram. 
E não! Não foi só a subnutrição, nem as auto-mutilações, nem as tentativas de suicídio, nem a depressão que vocês me impuseram! Porque agora, tenho as consequências daquilo que me fizeram. E que até são graves!
Quero afastar-me, mas vocês consomem-me e ainda me levam a acreditar numa ilusão.

Eu sou uma, vocês são duas. Mas acreditem minhas caras inimigas, eu ainda me hei-de rir de vocês! Não são nem nunca vão ser amigas das minhas amigas porque eu não vou deixar que ninguém acredite nas vossas alucinações! 

E se nada agradeço é porque nada tenho a agradecer


quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Nunca gritei tanto em silêncio!
Que aflição esta de ninguém ouvir.
Ouvia os meus próprios gritos na minha cabeça,
Via fantasmas, pessoas desconfiguradas, cortadas aos bocados.

Vi-me a mim deitada, toda de branco, com uma vitrine por cima.
Vitrine essa que não embaciava por já não haver ar dentro de mim.
Já não havia oxigénio que me fizesse voltar,
Não havia força que me erguesse dali
Porque não respirava!

E sem respirar apercebi-me de que não estava mais ali.
Apercebi-me de que era só um corpo morto, sem vida.

Mas Eu continuava ali, ainda que transparente, e sentia tudo de todas as formas.
Continuava a sentir,
Continuava a gritar,
Continuava a não querer ser só aquilo.

Continuava a querer ver-me, a querer sentir a minha respiração.
Estava no meio da vida e da morte.

Acordei e vi que não era um sonho.

Sou eu essa pessoa que vive sem saber viver,
Que não respira mesmo sabendo respirar
E que não sente nada, mesmo sabendo sentir.